De perfil técnico, delegada do caso Beto Freitas diz não sentir pressão em investigar Carrefour

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A banner reading "Justice, Beto lives" hangs on a fence in front of the Carrefour supermarket in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil on November 20, 2020. - The death on Thursday night of a black man after being beaten by white security agents in a supermarket belonging to the Carrefour group in Porto Alegre unleashed a wave of indignation in Brazil, which this Friday commemorates Black Consciousness Day. (Photo by SILVIO AVILA / AFP)

A investigação sobre o homicídio de Beto Freitas, 40, espancado até a morte no Carrefour em Porto Alegre é liderada pela delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre. Há 20 anos na Polícia Civil, ela é considerada uma profissional de perfil técnico e discreto. Portanto, nunca fala abertamente sobre suas preferências políticas.

Bertoldo lidera uma equipe formada por 11 agentes, entre escrivães e inspetores. A maioria deles é formada por homens – nove, no total; além de duas mulheres. Quem entra no Departamento de Homicídios, no Palácio da Polícia Civil, no cruzamento das avenidas João Pessoa e Ipiranga, se depara com o vai e vem dos agentes portando seus distintivos dourados, indo ou voltando de cumprimentos de mandados de busca e apreensão, coletando provas e depoimentos.

Foto: SILVIO AVILA / AFP)

“É tranquilo. São todos parceiros. Todo mundo sabe que a decisão final é minha, mas são discussões conjuntas, com diálogo”, diz Bertoldo sobre comandar uma equipe majoritariamente masculina. A equipe é composta apenas por pessoas brancas. “Como em qualquer profissão, infelizmente, ainda se vê mais brancos. Essa é a realidade desta delegacia, mas outras possuem profissionais negros”, diz a delegada.

Investigando homicídios, a equipe é habituada a cumprir mandados de busca e apreensão em casa de suspeitos de assassinatos. “Se mantém o respeito com todos, inclusive com os suspeitos”, relata. Em um caso como o da morte de Beto Freitas, um homem negro agredido por brancos, a discussão do racismo estrutural veio à tona em todo o país. A delegada investiga se houve crime de racismo ou injúria racial no caso de Beto, mas ainda não há evidências desse tipo de crime, que agravaria o crime de homicídio doloso triplamente qualificado. Isso não exclui, ressalta ela, o racismo estrutural presente na sociedade.

Além do debate em torno do racismo estrutural, a delegada diz que não se sente pressionada pelo envolvimento de uma rede multinacional de supermercados no caso de Beto Freitas, o Carrefour. “Se fosse num mercado pequeno, teria valor idêntico”, diz.

Na coletiva de imprensa, onde foi a anunciada a prisão da fiscal do Carrefour Adriana Alves Dutra, Bertoldo foi elogiada pela delegada-chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor, 44. Ela é a primeira mulher a chefiar a corporação gaúcha em 179 anos de história e também diz ser feminista. Anflor elogiou a delegada por investigar “com rapidez e dentro da lei”.(Fonte: Folha de PE)